segunda-feira, 31 de março de 2014

Sob a sombra - Foto: Davy Alexandrisky


Quantos de nós vivemos sob a sombra
Dos nossos medos
Dos  desejos reprimidos
Dos caminhos escolhidos
Dos desencontros catastróficos
Quantos de nós vivemos sob a sombra
Da felicidade clandestina
Dos desejos atendidos
De uma vida bem vivida, mas escondida
Dos sonhos mais secretos
Nas noites bem dormidas
Quantos de nós vivemos sob a sombra
Dos pensamentos tão loucos
Turbados, perturbados, alados
Da incompreensão alheia
Exatamente porque é alheia à nossa história
Quantos de nós vivemos atrás da luz
Um facho dela, que nos revela

Que acende a vela, que vela o corpo
Morto...
Porque não há quem possa viver

Todo o tempo sob a sombra!
M.N.

quinta-feira, 27 de março de 2014

O tamanho da solidão - Foto: Mariza Versiani Formagni

Há uma relatividade nas medidas
A pedra no caminho
Ou pedrão ou pedrinha
É a dura companhia
Dessa solidão vazia
É também o meu descanso
Nela sento e me encontro...
A palavra solidão
Tem final aumentativo
Mas, se a solidão é minha
Dou o nome que quiser
Então, SOLIDÃO? Que nada!
Ela é só solidinha.....
M.N.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Curve-se -Foto: Caner Baser

Curve-se ao fato de que és fraco
Na maioria das vezes
Curve-se ao fato de que um dia
As máscaras caem
Curve-se ao fato de que sozinho
Não és ninguém
Curve-se diante dos grandes
Que podem ensinar-te
Curve-se em honra
A quem tem Honra
Curve-se para veres os pés
Pois é a parte de ti
Que te assenta ao solo que pisas
Curve-se para dares valor
À coluna que te sustenta ereto
Curva-te para aprenderes
Que só os humildes são grandes
Curve-se para entenderes que soberba
É  apenas pretensão.
Curve-se, mas não te humilhes
Ao ponto de te rebaixares
Curve-se, tão somente,
 Para saberes quem tu és.
M.N.

terça-feira, 18 de março de 2014

Se...

Se eu tivesse falado
Se eu tivesse me calado
Se eu tivesse atentado
Se eu tivesse percebido

Se eu não tivesse feito
Se eu tivesse desfeito
Se eu tivesse me afeito
Se eu tivesse peito!

Se eu tivesse coragem
Se eu tivesse a miragem
Se eu fosse à viagem
Se eu.... sacanagem!

Se eu não tivesse amado
Se não fosse apaixonado
Se me houvesse castrado
Se eu fosse frustrado!

Se a música fosse outra
Se a dança fosse frouxa
Se levasse a minha trouxa
Se eu mesma fosse louca!

Se as lágrimas secassem
Se meus lábios se calassem
Se os gritos ecoassem
Se eu mesma me ouvisse!

Se eu não quisesse mais
Se só ele satisfaz
Se só quero minha paz
Se feliz serei?  Jamais...
M.N.

Barreira de arame

Houve um tempo
No qual precisei romper uma barreira
Mas não era um muro
Como tantos outros
Do qual saltei
Era de arames, e atravessei
A travessia me deixou retalhada
Não cheguei do lado de cá inteira
Ainda junto pedaços de mim
Procuro a beleza brejeira, faceira
E a imagem que me vem é desfigurada
Um tanto transformada, retalhada
Até que descubro beleza nos cortes
Recortes, mosaico, arte....
Há tanta arte na dor
Vejo-me do outro lado
Retalhos, sim, mas ainda eu
Cada pedaço reposicionado
Um sentimento meu
Barreira de arame:
Ou te enfrentar na travessia
Ou me enfrentar naquela vida!
M.N.

domingo, 2 de março de 2014

Meio de semana - Foto Bhal Marcos

Meio inteiro e pleno
Semana no meio, completa e serena
Mais  um meio de semana?
Não. O meio de semana
Com dança, com riso
Com vinho, com riso
Love, love, loveCom beijo, com riso
Com chama, inflama
E cama e ama....
No meio de semana
Sabores tão doces
tão quentes, querentes!
Comendo,  se sacia?
Uma fome que não termina!
E um querer que se prova
E aprova
E põe à prova
O que se foi, o que é.
O que será?
Já não sei...
O amor devorou minha paz e minha guerra
No meio da semana, cheio de fome
Ele devorou o meu silêncio
E me roubou de mim mesma.
M.N.

Aquele momento

Não houve nada mais importante que aquele momento
Não houve nada mais completo e inteiro
Nunca houve nada mais intenso e perfeito!

Conceber... receber... nascer....morrer

Eu era sempre igual até aquele momento
Até o dia em que você estava lá...
Primeiro nasceu na mente
Depois, no coração
Enfim, chegou ao ventre

Conceber... receber... nascer... morrer

A concepção sentida e re-sentida
A recepção do outro, você em mim
O milagre da vida
E um tanto de morte em mim

Conceber...receber... nascer... morrer

Só é capaz de saber o que é vida
Aquela que morreu um pouco
Que cruzou seu rio
E concebeu um filho.
M.N.