Senun, o pássaro que TINHA medo
de voar
Eu vou contar pra você a história
de Senun. Um periquito colorido e cantador...
encantador era Senun. Não havia um passarinho no Grande Viveiro que não
se encantasse com seus encantos!
Sabia bem como fazer qualquer
periquita ficar de asinhas caídas por ele. Era um filho exemplar, obediente e
corajoso! Ops! Peraí... Corajoso, corajoso não... Só que ele só descobriu que
era medroso mesmo no dia mais importante da sua vida. E é sobre esse dia que eu
quero falar.
Senun nasceu no dia 07 do 5º mês
de um ano que eu não vou revelar. Nasceu esperto como ele só! Muito mais depressa
do que seus irmãozinhos, ele aprendeu a dar as primeiras passadinhas e a voar
baixinho por entre os galhos do viveiro.
Mamãe Alai ficava nervosa, porque
Senun não parava quieto, um minutinho sequer, sempre querendo ir mais e mais
longe. E o papai Zepê estava sempre a brigar com ele: “Não suba aí, Senun. Você
não sabe voar” , “Saia logo desse canto, pois é perigoso”, “Não, não, não
pode...Isso não é pra você” “ Volte, está indo longe demais”...
E assim, dia após dia, cada
galhinho que Senun subia para poder dele saltar, foi lhe parecendo mais alto e
mais perigoso! E olha, que ele já estava ficando bem grandinho...
Sabe o que é engraçado? Quando
somos pequenos, os obstáculos parecem muito maiores! Mas, à medida que vamos
crescendo, eles parecem diminuir.... Porque crescemos. No entanto, para Senun a coisa não acontecia
assim. Ele crescia e com ele crescia o medo de voar... Cada galhinho, por menor
que fosse, era um galhão para o pequeno- grande Senun.
Ah...Mas eu vou te contar um
segredo (ó, não pode contar pra ninguém, tá? Primeiro, prometa que não conta.
Prometido??? Então, tá....): NINGUÉM, mas NINGUÉM MESMO sabia do medo de Senun.
Ele escondeu tão bem escondidinho, que nem ele mesmo sabia onde o medo estava e
achou que era o mais corajoso de todos os passarinhos do viveiro!!!
Defendia os irmãos das aves mais
atrevidas, sempre obedecia com coragem TODAS as ordens do papai e da mamãe tão
zelosos, era o mais forte na “Queda de Asa”, era craque em caçar minhoquinhas
para os filhotes dos vizinhos e ficava de vigia em cada casinha, para proteger
os outros passarinhos.... Parecia corajoso esse periquito. Nada, nada mesmo o
deixava com medo.
De voar??? Ah... Disso ele não se
lembrava mais.... Ele guardou tão bem guardadinho aquele medo, que um dia
procurou, procurou e não achou mais. Só que junto com o medo, sumiu também a
vontade. E sem medo e sem vontade, Senun vivia os seus dias no Grande Viveiro.
Cantando, encantando, protegendo, cuidando.....
Até que um dia, depois de muito
trabalhar, Senun olhou através das grades do Grande Viveiro, olhou assim com um
olhinho só, por um buraquinho só. E de repente.... Uau!!! Que céu azul, que
imensidão, quanto espaço, tanto céu, tantos lugares pra onde ir.... E eu aqui.
O “corajoso” Senun começou a
imaginar como deveria ser a vida além do viveiro. O que faziam os pássaros que
voavam pra lá e pra cá.... Onde era Lá? Onde era Cá? E começou a brotar nele
uma vontadezinha, bem pequenininha mesmo, de saber o que havia do outro
lado.... E a vontadezinha trouxe junto com ela, o medinho. Senun sentiu um
negócio esquisito, uns barulhinhos na barriga, um apertinho assim no peito, bem
pertinho do coração. E esse barulhinho, virou rapidinho um barulhão!!! E o
apertinho, logo, logo era um aperto tão apertado, que espremeu, espremeu e botou
para fora o Medo! Sabe aquele medo que tinha ficado escondido por anos? Pois é.
Ele mesmo. Ah... O medo era bem grande... Ele não sabia medir o tamanho, e nem sabia
se era maior que a Vontade de voar. Tudo porque a balança que pesava o Medo e
Vontade estava toooda enferrujada, fora de uso e não pesava nada direito.
Ele olhou pras suas asas... tão
bonitas que eram! De cores tão vivas e brilhantes! Abriu devagarinho e sentiu
primeiro uma cãibra, depois uma forte dor. Porque asa quando não se abre pra
voar, fica um tanto atrofiada, durinha, durinha. E pra mexer é um custo!!! Mas ele
continuou abrindo... Fez um tímido movimento para baixo e pra cima e percebeu
que elas eram, além de muito bonitas, fortes também.
Você pode estar pensando: “Pobre
Senun, trancado num viveiro, enquanto a passarada brinca lá fora, na imensidão
do céu azul...”. Não se engane! Senun não vivia trancado na gaiola ou no
viveiro, porque o Grande Viveiro ficava aberto a maior parte do tempo. Senun
vivia trancado em seu próprio medo! Quando ele escondeu, ele fechou a porta por
fora e perdeu a chave! Tadinho...
Então ele arquitetou um plano.
Escreveu na parede de seu quartinho, passo a passo, o que iria fazer. Era
assim:
1º passo: Consertar a balança do Medo e da
Vontade.
2º passo: Pesar o medo e a
vontade
3º passo: Encarar de frente o
resultado
4º passo: Decidir: ir ou ficar.
Pronto! Simples assim.
Simples??? Simples nada! O medo de voar trouxe junto com
ele outros medos, e agora Senun tinha medo de saber o resultado, tinha medo de
não conseguir decidir, tinha medo de ir e de ficar.... Ai, ai... O que fazer?
A sorte de Senun é que ele não tinha medo de consertar a
balança... Então, ele trabalhou dia e noite, noite e dia e consertou.... Agora a
balança estava prontinha, tinindo de brilhando, cada mola, cabo e haste estava
em seu devido lugar e funcionando direitinho.
Agora, o passo seguinte era pesar. Mas, o medo tomou conta
de Senun e ele demorou muito pra decidir se ia pesar ou não.... O medo tomou
conta dele, mas não se esqueça, junto com o medo vem a vontade de voar beem alto, na imensidão do céu
azul. E esse dilema atordoava Senun, que precisa saber quem pesava mais: o medo
ou a vontade. Então, não podendo mais esperar, ficando triste com a dúvida, ele
tomou coragem e pesou.
A balança pendeu de um lado para o outro, de um lado para o
outro, pendia para o medo e para a vontade também... E ficou assim por um bom
tempo até parar.
E, pra surpresa de Senun, a balança não desceu mais de um
lado, nem do outro.... Estava equilibrada na mesma direção. O medo e a vontade tinham o mesmo peso. Igualzinho. Nem
1 graminha a mais ou a menos para um lado ou para o outro.
Encarar esse resultado foi pior do que Senun pensava,
porque agora, a decisão não dependia do resultado, mas da sua própria vontade.
Peraí!!! Vou repetir: a decisão não dependia do resultado, mas da
sua própria vontade. É isso mesmo. A decisão não dependia do medo e sim, da
vontade. Se dependia da vontade, era mais fácil do que ele pensava.
E naquele dia, dia 08 do 5º mês, de um ano que eu não vou
revelar -o dia mais importante de sua vida- Senun colocou o medo bem na frente
dele e disse: Ei, Medo, eu não te escuto mais. Você não me leva a nada. E se
quiser saber pra onde eu vou, pra onde tenha Céu....É pra lá que eu vou. (Até
fizeram uma música por causa dessa história, você sabia disso? Um dia eu canto
pra você).
Quando Senun encarou o medo de frente e escolheu não dar
ouvidos a ele, o medo não encontrou espaço em sua vida, porque a vontade ocupou
cada centímetro da sua alma, do seu coração, da sua mente e do seu corpo. E
quando os dois foram colocados na balança, ela pendeu até o fim pro lado da
vontade. (Ele mediu só pra constar, claro; porque nem precisava mais, né...)
Então, Senum, o pássaro que TINHA medo de voar, não tem mais.
A imensidão do céu azul, às vezes, ainda parece pequena pra
ele.... Danadinho esse periquito. Sempre querendo mais e mais.... Mamãe Alai e
papai Zepê não conseguem segurar seu periquito caçula, que agora, além de
encantador, cuidador e obediente, é corajoso de verdade.
Um dia, eu te conto, todas as aventuras que ele tem vivido
em cada canto que ele vai....
Ah....Não posso esquecer... As asas dele cresceram muito.
Muito mesmo! Me contaram até, que de
periquito, Senun só tem o colorido. Ele se transformou numa bela águia. Não sei
se é verdade. Mas, eu não duvido de mais
nada....Até porque ele vai, no próximo ano, atravessar os mares! Sabe-se lá as
aventuras que um pássaro que não tem medo de voar pode viver... E eu quero
saber de todas, só pra contar pra você.
Bons voos.... Pra todos nós, que não temos mais medo de voar.
MNS
Nem um verso, nem poesia. Apenas uma história para a criança que há em mim e em você