sexta-feira, 11 de julho de 2014

Senun, o pássaro que TINHA medo de voar

Senun, o pássaro que TINHA medo de voar
Eu vou contar pra você a história de Senun. Um periquito colorido e cantador...  encantador era Senun. Não havia um passarinho no Grande Viveiro que não se encantasse com seus encantos!
Sabia bem como fazer qualquer periquita ficar de asinhas caídas por ele. Era um filho exemplar, obediente e corajoso! Ops! Peraí... Corajoso, corajoso não... Só que ele só descobriu que era medroso mesmo no dia mais importante da sua vida. E é sobre esse dia que eu quero falar.
Senun nasceu no dia 07 do 5º mês de um ano que eu não vou revelar. Nasceu esperto como ele só! Muito mais depressa do que seus irmãozinhos, ele aprendeu a dar as primeiras passadinhas e a voar baixinho por entre os galhos do viveiro.
Mamãe Alai ficava nervosa, porque Senun não parava quieto, um minutinho sequer, sempre querendo ir mais e mais longe. E o papai Zepê estava sempre a brigar com ele: “Não suba aí, Senun. Você não sabe voar” , “Saia logo desse canto, pois é perigoso”, “Não, não, não pode...Isso não é pra você” “ Volte, está indo longe demais”...
E assim, dia após dia, cada galhinho que Senun subia para poder dele saltar, foi lhe parecendo mais alto e mais perigoso! E olha, que ele já estava ficando bem grandinho...
Sabe o que é engraçado? Quando somos pequenos, os obstáculos parecem muito maiores! Mas, à medida que vamos crescendo, eles parecem diminuir.... Porque crescemos.  No entanto, para Senun a coisa não acontecia assim. Ele crescia e com ele crescia o medo de voar... Cada galhinho, por menor que fosse, era um galhão para o pequeno- grande Senun.
Ah...Mas eu vou te contar um segredo (ó, não pode contar pra ninguém, tá? Primeiro, prometa que não conta. Prometido??? Então, tá....): NINGUÉM, mas NINGUÉM MESMO sabia do medo de Senun. Ele escondeu tão bem escondidinho, que nem ele mesmo sabia onde o medo estava e achou que era o mais corajoso de todos os passarinhos do viveiro!!!
Defendia os irmãos das aves mais atrevidas, sempre obedecia com coragem TODAS as ordens do papai e da mamãe tão zelosos, era o mais forte na “Queda de Asa”, era craque em caçar minhoquinhas para os filhotes dos vizinhos e ficava de vigia em cada casinha, para proteger os outros passarinhos.... Parecia corajoso esse periquito. Nada, nada mesmo o deixava com medo.
De voar??? Ah... Disso ele não se lembrava mais.... Ele guardou tão bem guardadinho aquele medo, que um dia procurou, procurou e não achou mais. Só que junto com o medo, sumiu também a vontade. E sem medo e sem vontade, Senun vivia os seus dias no Grande Viveiro. Cantando, encantando, protegendo, cuidando.....
Até que um dia, depois de muito trabalhar, Senun olhou através das grades do Grande Viveiro, olhou assim com um olhinho só, por um buraquinho só. E de repente.... Uau!!! Que céu azul, que imensidão, quanto espaço, tanto céu, tantos lugares pra onde ir.... E eu aqui.
O “corajoso” Senun começou a imaginar como deveria ser a vida além do viveiro. O que faziam os pássaros que voavam pra lá e pra cá.... Onde era Lá? Onde era Cá? E começou a brotar nele uma vontadezinha, bem pequenininha mesmo, de saber o que havia do outro lado.... E a vontadezinha trouxe junto com ela, o medinho. Senun sentiu um negócio esquisito, uns barulhinhos na barriga, um apertinho assim no peito, bem pertinho do coração. E esse barulhinho, virou rapidinho um barulhão!!! E o apertinho, logo, logo era um aperto tão apertado, que espremeu, espremeu e botou para fora o Medo! Sabe aquele medo que tinha ficado escondido por anos? Pois é. Ele mesmo. Ah... O medo era bem grande... Ele não sabia medir o tamanho, e nem sabia se era maior que a Vontade de voar. Tudo porque a balança que pesava o Medo e Vontade estava toooda enferrujada, fora de uso e não pesava nada direito.
Ele olhou pras suas asas... tão bonitas que eram! De cores tão vivas e brilhantes! Abriu devagarinho e sentiu primeiro uma cãibra, depois uma forte dor. Porque asa quando não se abre pra voar, fica um tanto atrofiada, durinha, durinha. E pra mexer é um custo!!! Mas ele continuou abrindo... Fez um tímido movimento para baixo e pra cima e percebeu que elas eram, além de muito bonitas, fortes também.
Você pode estar pensando: “Pobre Senun, trancado num viveiro, enquanto a passarada brinca lá fora, na imensidão do céu azul...”. Não se engane! Senun não vivia trancado na gaiola ou no viveiro, porque o Grande Viveiro ficava aberto a maior parte do tempo. Senun vivia trancado em seu próprio medo! Quando ele escondeu, ele fechou a porta por fora e perdeu a chave! Tadinho...
Então ele arquitetou um plano. Escreveu na parede de seu quartinho, passo a passo, o que iria fazer. Era assim:
1º  passo: Consertar a balança do Medo e da Vontade.
2º passo: Pesar o medo e a vontade
3º passo: Encarar de frente o resultado
4º passo: Decidir: ir ou ficar.
Pronto! Simples assim.
Simples??? Simples nada! O medo de voar trouxe junto com ele outros medos, e agora Senun tinha medo de saber o resultado, tinha medo de não conseguir decidir, tinha medo de ir e de ficar.... Ai, ai... O que fazer?
A sorte de Senun é que ele não tinha medo de consertar a balança... Então, ele trabalhou dia e noite, noite e dia e consertou.... Agora a balança estava prontinha, tinindo de brilhando, cada mola, cabo e haste estava em seu devido lugar e funcionando direitinho.
Agora, o passo seguinte era pesar. Mas, o medo tomou conta de Senun e ele demorou muito pra decidir se ia pesar ou não.... O medo tomou conta dele, mas não se esqueça, junto com o medo vem a  vontade de voar beem alto, na imensidão do céu azul. E esse dilema atordoava Senun, que precisa saber quem pesava mais: o medo ou a vontade. Então, não podendo mais esperar, ficando triste com a dúvida, ele tomou coragem e pesou.
A balança pendeu de um lado para o outro, de um lado para o outro, pendia para o medo e para a vontade também... E ficou assim por um bom tempo até parar.
E, pra surpresa de Senun, a balança não desceu mais de um lado, nem do outro.... Estava equilibrada na mesma direção. O medo e  a vontade tinham o mesmo peso. Igualzinho. Nem 1 graminha a mais ou a menos para um lado ou para o outro.
Encarar esse resultado foi pior do que Senun pensava, porque agora, a decisão não dependia do resultado, mas da sua própria vontade.
Peraí!!! Vou repetir:  a decisão não dependia do resultado, mas da sua própria vontade. É isso mesmo. A decisão não dependia do medo e sim, da vontade. Se dependia da vontade, era mais fácil do que ele pensava.
E naquele dia, dia 08 do 5º mês, de um ano que eu não vou revelar -o dia mais importante de sua vida- Senun colocou o medo bem na frente dele e disse: Ei, Medo, eu não te escuto mais. Você não me leva a nada. E se quiser saber pra onde eu vou, pra onde tenha Céu....É pra lá que eu vou. (Até fizeram uma música por causa dessa história, você sabia disso? Um dia eu canto pra você).
Quando Senun encarou o medo de frente e escolheu não dar ouvidos a ele, o medo não encontrou espaço em sua vida, porque a vontade ocupou cada centímetro da sua alma, do seu coração, da sua mente e do seu corpo. E quando os dois foram colocados na balança, ela pendeu até o fim pro lado da vontade. (Ele mediu só pra constar, claro; porque nem precisava mais, né...)
Então, Senum, o pássaro que TINHA medo de voar, não tem mais.
A imensidão do céu azul, às vezes, ainda parece pequena pra ele.... Danadinho esse periquito. Sempre querendo mais e mais.... Mamãe Alai e papai Zepê não conseguem segurar seu periquito caçula, que agora, além de encantador, cuidador e obediente, é corajoso de verdade.
Um dia, eu te conto, todas as aventuras que ele tem vivido em cada canto que ele vai....
Ah....Não posso esquecer... As asas dele cresceram muito. Muito mesmo! Me contaram até,  que de periquito, Senun só tem o colorido. Ele se transformou numa bela águia. Não sei se é verdade.  Mas, eu não duvido de mais nada....Até porque ele vai, no próximo ano, atravessar os mares! Sabe-se lá as aventuras que um pássaro que não tem medo de voar pode viver... E eu quero saber de todas, só pra contar pra você.
Bons voos.... Pra todos nós, que não temos mais medo de voar.

MNS




Nem um verso, nem poesia. Apenas uma história para a criança que há em mim e em você